sábado, 5 de fevereiro de 2011

Educação

COMO MELHORAR A EDUCAÇÃO BRASILEIRA
A qualidade da liderança é um atributo decisivo do sucesso de qualquer organização, seja ela um time de futebol, uma empresa ou um país. Em educação, não é diferente: a administração escolar - tanto no nível das secretarias quanto na direção de uma escola – é um item fundamental na melhoria de nosso ensino. Este artigo está dividido em duas partes: na primeira faz-se um levantamento do que a literatura empírica aponta como sendo os fatores importantes de uma administração escolar virtuosa. Na segunda, explica-se porque muitos desses fatores não têm aplicabilidade no quadro atual da educação brasileira.

ANTES DE COMEÇAR, um alerta: a literatura empírica, econométrica, ainda está longe de identificar a totalidade dos fatores que compõem o professor perfeito ou o diretor perfeito. Apesar desta ignorância, há muito que já se sabe e é disso que vamos tratar.
O QUE DEVE FAZER um bom administrador escolar? Um fator importante é ter a casa em ordem. Isso começa pela infraestrutura: paredes, telhados, sistema elétrico. Uma escola limpa também tende a ter alunos que aprendem mais. É importante que todas as salas tenham uma estrutura mínima para ministrar aulas, como quadro, mesa e cadeira para o professor, cadeiras e carteiras para os alunos. Não faltar material de ensino também é positivo. Duas intalações que toda escola deveria ter: biblioteca e laboratório de ciências. É bom ter não apenas uma biblioteca na escola, mas uma versão menor dentro de cada sala de aula. Em termos de tecnologia, um implemento que faz diferença é a copiadora. E é só. A literatura sugere que a presença de computadores não está associada à aprendizagem, tampouco instalações mais suntuosas, como ginásios de esportes, teatros, etc. (não quer dizer que tais instalações não façam bem ao espírito, mas estamos nos atendo aqu ao que é relevante para o aprendizado do aluno).
OUTRA DECISÃO importante da direção escolar diz respeito ao regime seriado versus progressão. O único estudo conhecido que comparou esses dois sistemas no Brasil, chegou a conclusão de que eles são indiferentes para o aprendizado do estudante. A discussão calorosa sobre o assunto é muito barulho por nada.
EM TERMOS DE administração financeira, compete ao administrador evitar os dois maiores desperdícios de recursos: diminuir o número de alunos em sala de aula e aumentar o salário dos professores. Ambas as variáveis não promovem mais aprendizagem.
A PARTE MAIS importante da administração escolar, porém, não tem a ver com prédios e sistemas, mas com pessoas. Cabe ao líder a tarefa-chave de recrutar, treinar, motivar e reter os bons profissionais e identificar e afastar os maus.
PRIMEIRO, OS DIRETORES. Conheçe-se apenas dois estudos quantitativos sobre o impacto de mecanismos de seleção de diretores: um deles mostra que diretores eleitos, têm alunos com desempenho melhor do que aqueles indicados por políticos, e o outro sugere que essa variável é indiferente. Nos últimos anos, liderados por Minas Gerais, alguns estados e municípios têm adotado um sistema que envolve a realização de provas qualificatórias e num momento seguinte, eleições. Parece um processo superior à eleição ou indicação política, mas ainda é preciso mais pesquisa sobre o tema.
HÁ UM ESTUDO apenas sobre remuneração do diretor no Brasil, e ele indica que o salário do diretor tem correlação com o aprendizado do seu aluno.
QUESTÃO IMPORTANTE: o numero de horas-aula. Aqui, a pesquisa se divide: nos países desenvolvidos, o numero de horas é insignificante para a aprendizagem. Nos países em desenvolvimento, entre eles, o Brasil, é importante. Como a diferença estatutária de numero de horas-aula entre o Brasil e os países da OCDE não é muito significativa (800 horas/ano para o Brasil e 900, em média, para eles), crê-se que a conclusão mais importante a que se deve chegar é a de fazer cumprir a jornada mínima de horas-aula no Brasil. Inês Miskalo, coordenadora de educação formal do Instituto Ayrton Senna, que atende milhões de alunos em todo o pais, atesta que na prática, a carga horária prevista em lei não é cumprida. “Há lugares em que ter 600, 650 horas-aula por ano é visto como um sucesso”, diz ela. Antes de se pensar em ensino de tempo integral, portanto, devemos nos certificar de que a carga horária prescrita em lei seja cumprida. Já nos traria um bom salto no aprendizado. O problema do absenteísmo docente está relacionado a essa questão: as pesquisas são praticamente unânimes em mostrar que professores que faltam mais têm alunos que aprendem menos.
POR QUE OS professores faltam às aulas ou, em ultima instância, abandonam o magistério? A pesquisa vem sugerindo que fatores não financeiros têm enorme importância na motivação dos professores de seguirem na carreira. Um fator importante é o “clima escolar”: em escolas em que há responsabilização coletiva por resultados, em que os professores se sentem participe de uma tarefa compartilhada e importante, os resultados são melhores. Outro resultado: em escolas onde os alunos aprendem mais e onde há menos alunos de minorias ocorre menos abandono de professores. Esse achado é triste porque contrasta com outro achado importante: o impacto de um mau professor é desproporcionalmente maior em um mau aluno e em um aluno de baixo nível socioeconômico. A melhor política, portanto, seria alocar os melhores professores para as piores escolas, mas isso aumentaria o risco de que muito deles abandonassem a carreira, especialmente os mais jovens e mais preparados. Além de melhorar o clima escolar, há outro recurso efetivo que pode ser usado pela direção de uma escola: programas de “mentoring”, em que os professores “em risco” e os mais jovens recebem orientação de um mentor: um professor mais experiente que ajudará nas frustrações e desafios que a carreira enseja. É importante que o bom professor não se sinta solitário e isolado, que seja constantemente amparado. A literatura mostra que os anos de carreira de um professor não tem relação com a aprendizagem de seu aluno, mas os anos de permanência em uma mesma escola, sim.
OUTRO FATOR importante para o sucesso de uma escola é que o diretor tenha autonomia para contratar e demitir seus professores. As pesquisas revelam que é extremamente difícil identificar um bom futuro professor no momento de sua contratação, mas algumas características vêm se mostrando importantes: o professor ter estudado a área que vai ensinar na faculdade e ter cursado uma universidade concorrida produz efeito no aprendizado do aluno. Ter feito pós graduação, não. Um estudo recente nos EUA indica que a utilização de um conjunto de variáveis cognitivas e não cognitivas dos futuros professores leva a resultados positivos. Em termos de regimes de trabalho, ao contrário do que pregam os sindicatos, a maioria das pesquisas mostra que não faz diferença, para o aprendizado do aluno, quantos empregos o professor tem, se trabalha em uma escola ou mais.
FINALMENTE, a meritocracia: os estudos vêm mostrando que planos que pagam bonificações a professores individuais não têm resultados significativos. Aqueles em que o pagamento é feito à escola, sim. Faz sentido: ensinar é tarefa sequencial e coletiva. Se o aluno teve, uma péssima aula de matemática na segunda série, dificilmente se sairá bem na quarta.
MAS MUITO DO QUE vai acima ainda não pode ser implantado na maioria das escolas públicas brasileiras. Em primeiro lugar, porque, conforme o último levantamento do INEP sobre o tema, quase 60% dos diretores escolares são fruto de indicação política. Na maioria dos casos, são apadrinhados de políticos: “chega ano eleitoral e é um terror, todos têm medo de ser demitidos. O diretor vira cabo eleitoral do seu padrinho”, diz Ilona Lustosa da Fundação Lemann, focada na área de gestão escolar. “No primeiro ano (de mandato)nada se faz, pois o governo está voltado a corrigir os erros do antecessor. No último, também não, pelo medo do que vai ocorrer depois. E, mesmo no meio, o diretor sofre o impacto da eleição da outra esfera (estado ou município), que frequentemente causa mudanças de pessoal”, confirma Inês Miskalo. Em segundo lugar, porque mesmo os bem-intencionados são despreparados: não há nenhum curso de graduação em administração escolar, e até na área de pós-graduação a oferta é mínima. Em terceiro, porque, na maioria dos estados o diretor é um funcionário publico com estabilidade na carreira, praticamente indemissível, sem nenhum incentivo lógico a ter grande perfomance no cargo (nos últimos cinco anos, por exemplo, só dezessete diretores foram exonerados em todo o estado de São Paulo; na atual gestão da rede municipal de São Paulo, só dois). Em quarto, porque o diretor de escolas públicas brasileiras é asfixiado por uma burocracia sem fim, e acaba sendo muito mais um preenchedor de formulários do que um líder pedagógico ou motivador de pessoas. Em quinto, porque na maioria dos sistemas o professor não tem incentivo para pensar no aprendizado do aluno, muito menos para ensinar em áreas de risco. E, finalmente, porque os diretores não têm controle sobre a variável principal do processo educacional: não podem contratar bons professores ou demitir os incompetentes.
ESSE QUADRO é assim porque a função mais importante de uma escola para as lideranças políticas é servir de cabide de empregos e fonte de poder político, através da influência que a escola tem sobre uma comunidade. O aprendizado dos discentes importa menos. Enquanto for assim, não haverá literatura empírica que resolva.
Revista Veja (edição 2 200)
Artigo de Gustavo Ioschpe

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A ESCOLA

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Professor das redes públicas estadual (desde de 15 de setembro de 1983) e municipal (desde de 1º de fevereiro de 1996), exercendo seu mister em Icoaraci, distrito de Belém, Pará. Espera através deste blog, fazer intercâmbios de idéias e atitudes com todos que labutarem no ramo da Biologia e até com aqueles que admiram esta importante Ciência em nosso planeta Terra